quinta-feira, 8 de abril de 2010

A 'ressurreição' do Benfica - Por Santos Neves

Por Santos Neves in A Bola

ACONTEÇA o que acontecer hoje em Liverpool, e mesmo que um descalabro (improvável, não impossível) abata o Benfica nas derradeiras jornadas do campeonato, a ressurreição da águia é a mais forte marca desta época do futebol português. Então o Sp. Braga que, com orçamento muitíssimo inferior, ainda ousa não desistir de fantástica proeza? Justifica enormes elogios — tantos e tão rasgados que Domingos Paciência poderá estar prestes a entrar no Dragão, ou em Alvalade, pela maior porta que lá houver—, mas a carreira bracarense não atinge, em várias bitolas de análise, a craveira da benfiquista.
Desde logo: o Sp. Braga saiu da Europa logo à primeira e bem cedo ficou fora das Taças portuguesas; o Benfica conquistou a Taça da Liga (com esfusiantes 4-1 ao Sporting, em Alvalade, e 3-0 ao FC Porto, na final) e, enquanto, superando desgastes, decidia entusiasmar-se também na Liga Europa (brilhante em Marselha, convicto na 1.ª mão com o Liverpool), embalava para substancial avanço na Liga portuguesa.

Depois, e acima de tudo: a qualidade do futebol benfiquista, amiúde exuberante. Múltiplas exibições de mão cheia, sólida estrutura colectiva que se expressa assim: a melhor capacidade defensiva e poder atacante de outra galáxia à dimensão lusitana (na Liga, mais 28 golos que o Sp. Braga...; no toda da época, fasquia de 100 golos claramente ultrapassada).

Finalmente: a maré vermelha que tem criado loucuras de bilheteira de lés a lés do país. Na Luz, a média de espectadores no termo do campeonato poderá ultrapassar 50 mil! Por todos os outros estádios, casa cheia quando o Benfica lá vai (o mais recente exemplo: em jogos na Figueira da Foz, mesmo disputando o seu numa 2.ª feira às 9 da noite, o Benfica vendeu mais bilhetes que FC Porto e Sporting... juntos).

Mesmo pondo de lado o ror de troféus que conquistou (todos) na pré-época, qual a dúvida de que o Benfica tem sido a máxima figura de cartaz nesta época portuguesa?

JORGE JESUS: a trave mestra da transfiguração que empolga o Benfica. OK, arrancou com suplemento de muito importantes aquisições: Saviola, Ramires, Javier Garcia. Mas todo o restante onze mais vezes titular já estava na Luz... e o Benfica passou 4 anos nem sequer ao 2.º lugar chegando. Tinha Quim, Maxi Pereira, Luisão, David Luís, Sidnei (e teve o melhor Léo); tinha Katsouranis, Pablo Aimar, Carlos Martins, Rúben Amorim, Dí Maria, Cardozo... (e dispensou Fábio Coentrão). Arrastava-se sem modelo de jogo e sem convicção. Jorge Jesus construiu estrutura táctica, sedimentou-a e foi-lhe dando alternativas. Agarrou e dimensionou os jogadores; praticamente todos atingiram craveira muito acima da que tinham (até Aimar e Saviola que o futebol internacional muito bem conhecia, mas somavam anos em total eclipse). Importantíssima demonstração da categoria do treinador Jorge Jesus: fez de Di María e Fábio Coentrão futebolistas muito a sério, de alta competição; ficavam-se por brinca na areia (amiúde, cabeças pequeninas), ei-los virados do avesso em dimensão e consistência competitivas. Outro exemplo, embora, claro, numa amplitude que não vai da noite para o dia: Luisão decerto não pouco aprendeu com este técnico, tem feito grande época, está bem melhor jogador, agora sim, solidamente eficaz.

Esta noite se verá onde já chega a dimensão europeia do ressuscitado Benfica. Seria milagre, numa só época de transfiguração, conseguir ir à caça também da Liga Europa. Para isso, este (muito melhor) plantel ainda é insuficiente. Já se nota cansaço porque escasseiam alternativas de equivalente valia. Vide defesas-laterais, flanco direito da linha média (talvez o emprestado Urretabyscaia desse agora bom jeito) e avançados de zona central (o lesionado Saviola faz muita falta; além das suas tão inteligentes movimentações, considero que é ele, não Cardozo, o mais eficaz finalizador do Benfica).


É muito do que penso deste Benfica! Além disso, acrescento a moralização do excelente guarda-redes que é o Quim e a construção de um avançado mais completo personalizada em Cardozo, que com Jesus deixou de ser um tipo grande que cabeceia e mete o pé esquerdo, empurrando bolas para a baliza, para um construtor de jogo (embora ainda tímido)

Pessoalmente, penso que o Benfica acabará por perder Di Maria e possivelmente outro jogador. Não acredito que David Luiz ceda aos milhões, pois ama demais este clube para sair. Luisão já afirmou que quer acabar a carreira no Benfica e Javi, quer chegar à selecção pelo Benfica. Ramires e Cardozo são assim fortes opções para a saída. Assim, o Benfica tem de ter uma solução à altura de Di Maria que poderá passar por Nani, Simão , Urreta ou outro semelhante. Precisamos de defesas laterais consistentes e quanto a mim precisamos de um matador que saiba jogar mais que Cardozo. Além disso... apostava no regresso do encantador Miccoli para "clonar" Saviola.

Quanto a vendas... uiii tanto que há para vender. Luis Filipe, Mantorras, Jorge Ribeiro, etc... todos os que este ano não jogaram devem sair. O Benfica construiu uma equipa equilibrada e é assim que se deve construir o plantel da próxima época, mas desta vez com pé e cabeça, mas também troco, ou seja, sem contar com todos os que estão abaixo do titular. Com isto digo que Kardec, Eder Luis, Julio César, Ruben Amorim, Airton, etc, como já entraram a títulares em jogos ditos importantes, estão claramente à altura, já Mantorras, Luis Filipes, Jorge Ribeiros e afins não!

Depois acho que temos bons juniores que podem jogar jogos menores. Roderick é disso exemplo, mas não só! Além disso, espero que o Rui Costa constitua um clube dito satélite do Benfica. O Santa Clara é uma excelente solução, assim como o Sport London e Benfica que tão brilhante carreira tem feito. Assim os nossos juniores poderia começar a rodar ao mais alto nível e cimentar o seu futebol para anos depois integrarem o plantel principal.

Quanto ao Jorge Jesus... renovem com o homem até 2050! Façam dele o Fergussun português, pois a táctica e o estudo exaustivo das equipas fazem dele um técnico de nível mundial! Uns dirão que é exagero o que digo, mas o Benfica precisa de estabilidade técnica. O Manchester encontrou isso em Alex F. e o Benfica pode fazer o mesmo. Toni, Rui Costa, Mozer, Simões, Augusto... para citar apenas alguns, podem ocupar o lugar de treinador adjunto depois.

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